Carta aos tolos

Inaugurando mais uma tag! Em "Special Guest", postaremos contos de escritores e amadores. Se você escreve e gostaria de ter uma história publicada no Cinégrapho, é só mandar o conto, com no máximo uma folha, para cinegrapho@yahoo.com! E não esqueça de mandar uma imagem, caso queira ilustrar, e uma minibiografia. O texto não será modificado em nenhum aspecto!


Carta aos tolos


Preciso que esta carta chegue ao seu destino antes que seja tarde demais. A injustiça sempre atua de forma cruel e persegue aos mais tolos. Neste caso não é diferente.
Escrevo para declarar que todos os homens que encarcerei na penitenciária a qual eu sou o diretor são inocentes. Isso mesmo. I-n-o-c-e-n-t-e-s. Não cometeram crime algum e não mereciam terrível castigo.

João das Dores, por exemplo, tomou as dores da irmã, Maria das Dores, e matou o homem que havia estuprado ela. Ora, excelentíssimo juiz, há honra maior do que lutar pela sua família?
Pedro Puteiro é outro. O coitado tentou defender a pobre Maria das Dores enquanto era atacada brutalmente por Robson Pit Bull, que era doente de paixão pela moça. Durante a briga, deu uma facada em Robson Pit Bull, que foi parar no hospital, mas sobreviveu.

Já a jovem não teve a mesma sorte. Trabalhava na madrugada, vendia o corpo em troca do pão de cada dia, mas era uma piranha. Depois de fazer o serviço incompleto, roubou todo o dinheiro do Robson Pit Bull e deixou o coitado com a roupa do corpo. Este foi tirar satisfação com a vadia e acabou sendo preso por assassinato.

O Pedro Puteiro, que era o patrão da Maria das Dores, também foi aprisionado por tentar salvar a pele da sua empregada. Mesmo que esta seja uma atividade ilegal, qual patrão faz isso hoje em dia?

Veja o caso do Ricardo Pinto. Homem sério, pai de família. Foi se envolver com a prostituta Maria das Dores (isso, a mesma que fez os dois bestas acima pararem aqui). E não é que um dia a mulher descobriu? Ah, excelentíssimo, a briga foi feia. E, nesse caso, o Ricardo Pinto quase perdeu o sobrenome. A mulher tentou arrancar o provedor dos seus filhos fora. Em troca, Ricardo (que quase ficou sem) Pinto agrediu tanto a mulher que ela foi parar na UTI. Pronto, mais um que foi preso.

Anderson Aparecido desapareceu com o corpo da sogra. Pudera, Maria das Dores (sua esposa) era uma filha da puta também, com todo respeito. Anderson, católico apostólico romano, de família crente, perdeu a cabeça ao saber que a mulher era influenciada pela mãe e cometia a barbaridade de usar o seu corpo sagrado para ganhar dinheiro. Durante a discussão, empurrou a sogra, que rolou escada abaixo e bateu a cabeça. O jeito foi enterrar o corpo da véia no jardim.

Por fim, eu. Eu, excelentíssimo, que servi ao País por tanto tempo, estou desprovido de minha liberdade apenas porque eliminei João das Dores quando descobri que ele pretendia matar Pedro Puteiro para gerenciar a irmã na prostituição. Depois silenciei o Pedro Puteiro, que fez a minha eterna paixão (Maria das Dores) entrar nessa vida e sofrer o pão que o diabo amassou. Eliminei o Robson Pit Bull, assassino da minha amada. Matei também o Ricardo Pinto quando descobri que ele chantageava a das Dores. E, por fim, o corno do Anderson Aparecido que assassinou a minha futura sogra.

Peço, Sr. Meritíssimo, que considere todas essas almas inocentes.

Sem mais,
Gerson Arrependido dos Santos

*Autora:
Livany Salles, jornalista e escritora nas horas vagas. Eu = sem justificativas, sem denominações ou qualquer rótulo estampado no vidro de um produto na prateleira
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